O Barril de Amontillado

Edgar Allan Poe
O barril de Amontillado 


As mil afrontas de Fortunato, eu as suportei o melhor que pude; mas quando passou
destas ao insulto, jurei vingança. Mas você, que conhece tão bem a natureza de minha
alma, não há de imaginar que proferi uma única ameaça. Ao fim e ao cabo, eu me
vingaria, isso era ponto pacífico, irrevogável – e, sendo irrevogável, a decisão excluía
toda idéia de risco. Não devia apenas punir, mas punir impunemente. Um mal não está
reparado se alguma represália recair sobre quem o repara. Como não está reparado se o
vingador não puder se revelar a quem cometeu o mal.
              Claro está que nenhum ato ou palavra de minha parte dera ensejo a que Fortunato
duvidasse de minha boa vontade. Continuei, como de hábito, a sorrir-lhe, sem que ele
percebesse que sorria, agora, à idéia de sua imolação.
              Tinha um ponto fraco, esse Fortunato, muito embora sob outros aspectos fosse
homem de se respeitar e mesmo temer. Orgulhava-se de conhecer vinhos. Poucos
italianos têm o verdadeiro espírito do virtuoso. O mais das vezes, seu entusiasmo serve ao
momento e à oportunidade – a praticar alguma impostura à custa de milionários
britânicos ou austríacos. Em se tratando de pinturas e jóias, Fortunato era, como seus
compatriotas, um charlatão – mas, em matéria de vinhos antigos, era sincero. Nisso não
diferíamos substancialmente: eu mesmo era entendido em boas safras italianas, e
comprava à larga sempre que podia.
               Foi à hora do crepúsculo, certa noite do desvario supremo da estação
carnavalesca, que fui ao encontro de meu amigo. Ele me abordou com vivacidade
excessiva, pois bebera demais. O sujeito usava uma fantasia de bufão. Vestia uma peça
justa e listrada, e tinha a cabeça encimada pelo chapéu cônico de guizos. Fiquei tão feliz
de encontrá-lo, que não queria mais parar de lhe apertar a mão.
               Disse a ele:
                – Meu caro Fortunato, que sorte encontrá-lo. Que bela aparência, é notável! Mas
recebi um barril que dizem ser de Amontillado, e tenho lá minhas dúvidas.
                – Como? – disse ele. – Amontillado? Um barril? Impossível! E no meio do
Carnaval!
                – Tenho lá minhas dúvidas – repliquei –, e cometi a tolice de pagar o preço de um
Amontillado sem consultá-lo a respeito. Não havia meio de encontrá-lo, e tive medo de
perder o barril.
                – Amontillado!
                – Tenho lá minhas dúvidas.
                – Amontillado!
                – E quero me livrar delas.
                – Amontillado!
                – Como você está ocupado, vou ter com Luchesi. Se alguém tem tino crítico, esse
alguém é ele. Vai saber me dizer...
                – Luchesi não sabe a diferença entre um Amontillado e um xerez.
                – Mas não falta o tolo que diga que o paladar dele é páreo para o seu.
                – Venha, vamos.

                – Para onde? 
                – Para as suas caves.
                 – Não, meu amigo, não; não vou abusar de sua bondade. Logo se vê que você tem
um compromisso. Luchesi...
                 – Não tenho compromisso nenhum; venha.
                – Meu amigo, não. Não é o compromisso, mas esse resfriado severo que logo se
vê que o aflige. As caves são insuportavelmente úmidas. Estão incrustadas de salitre.
                – Vamos assim mesmo. O resfriado não é nada. Amontillado! Você foi
trapaceado. E quanto a Luchesi, esse não sabe distinguir um xerez de um Amontillado.
                A essas palavras, Fortunado apossou-se de meu braço. Vestindo uma máscara de
seda negra e puxando um roquelaure rente ao corpo, deixei que ele me arrastasse rumo a
meu palazzo.
                Nenhum criado estava em casa; todos haviam escapado para festejar, em louvor à
época. Eu lhes dissera que não voltaria até a manhã seguinte e dera ordens explícitas de
que não dessem um passo para fora da casa. Essas ordens eram suficientes, eu bem sabia,
para garantir o sumiço imediato de todos e cada um, tão logo eu lhes desse as costas.
                Tirei duas tochas dos castiçais e, entregando uma a Fortunato, conduzi-o com
vênias por uma seqüência de aposentos até o arco que levava às caves. Segui por uma
longa escada em espiral, rogando-lhe que tivesse cautela ao me seguir. Chegamos
finalmente ao pé da descida e pisamos o chão úmido das catacumbas dos Montresor.
                O andar do meu amigo era incerto, e os guizos do chapéu tilintavam às suas
passadas.
                – O barril? – perguntou ele.
                – Mais adiante – respondi. – Mas veja só a teia branca que brilha nessas paredes
cavernosas.
                Ele se voltou para mim e me fitou nos olhos com duas órbitas turvas que
distilavam a reuma da ebriedade.
                – Salitre? – finalmente perguntou.
                – Salitre – repliquei. – Mas quando começou essa tosse?
                – Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof! Cof, cof, cof!
                Meu pobre amigo não teve como responder por uns bons minutos.
                – Não é nada – disse, afinal.
                – Venha – eu disse, determinado –, vamos voltar. Sua saúde é preciosa. Você é
rico, respeitado, admirado, amado; é feliz como eu já fui. Sua falta seria sentida. Não há o
menor problema para mim. Vamos voltar; você vai cair doente, e não quero ser o
responsável. Além do mais, Luchesi...
                – Basta disso – disse ele. – A tosse não é nada, não vai me matar. Não é de uma
tosse que eu vou morrer.
                – Tem razão, tem razão – repliquei. – Também não tenho a menor intenção de
alarmá-lo à toa; mas todo cuidado é pouco. Um gole desse Medoc vai nos proteger da
umidade.
E desarrolhei uma garrafa que tirei de uma longa fileira disposta sobre o bolor.
                – Beba – eu disse, oferecendo-lhe o vinho.
Levou-o aos lábios com uma piscada maliciosa. Fez uma pausa e acenou
familiarmente com a cabeça, enquanto os guizos tilintavam.
                – Bebo aos mortos que repousam aqui à volta.

                – E eu, à vida longa. 
                Tomou novamente do meu braço e seguimos em frente.
                – Estas caves – ele comentou – são enormes.
                – Os Montresor – respondi – foram uma família importante e numerosa.
                – Qual é mesmo o seu brasão?
                – Um grande pé humano em ouro contra campo azul; o pé esmaga uma serpente
rampante cujas presas penetram o calcanhar.
                – E o moto?
                – Nemo me impune lacessit.
                – Ótimo! – ele disse.
                O vinho cintilava em seus olhos, e os sinos tilintavam. Minha própria fantasia se
acalorava com o Medoc. Havíamos passado por paredes de ossos empilhados, com barris
e tonéis alternados, rumo aos recessos mais recônditos das catacumbas. Fiz nova pausa, e
dessa vez me atrevi a segurar Fortunato pelo braço, acima do cotovelo.
                – O salitre! – eu disse. – Veja só como vai crescendo. Agarra-se feito musgo à
parede das caves. Estamos embaixo do leito do rio. As gotas de umidade escorrem entre
os ossos. Venha, vamos voltar antes que seja tarde. Essa sua tosse...
                – Não é nada – ele disse –, vamos em frente. Mas, primeiro, mais um gole do
Medoc.
                Abri e passei um garrafão de De Grâve. Esvaziou-a de um fôlego só. Os olhos
rebrilharam com uma luz feroz. Soltou uma risada e jogo a garrafa para cima num gesto
que não entendi.
                Olhei surpreso para ele. Repetiu o movimento – que era grotesco.
                – Não compreende? – ele perguntou.
                – Não – respondi.
                – Então você não é da irmandade?
                – Como?
                – Não é um pedreiro livre?
                – Sim, sim – respondi – sim, sim.
                – Você? Impossível! Pedreiro livre?
                – Sim, pedreiro – respondi.
                – Uma senha – ele pediu.
                – Aqui está – respondi, tirando uma colher de pedreiro das dobras do meu
roquelaure.
                – Está zombando – ele exclamou, retrocedendo alguns passos. – Mas vamos ao
Amontillado.
                – Assim seja – respondi, voltando a guardar a colher sob a capa e novamente
oferecendo-lhe o braço. Apoiou-se pesadamente. Continuamos nossa jornada em busca
do Amontillado. Passamos por uma seqüência de arcos baixos, descemos, avançamos e,
descendo novamente, chegamos a uma cripta profunda, em cujo ar viciado nossas tochas
mais ardiam que flamejavam.
                No canto mais remoto da cripta abria-se outra, menos espaçosa. Tinhas as paredes
cobertas de despojos humanos empilhados até a abóbada, à maneira das grandes
catacumbas de Paris. Três lados dessa cripta interior ainda conservavam esse adorno. Os
ossos tinham sido arrancados do quarto e jaziam promiscuamente pelo chão, formando
um montículo de bom tamanho. Na parede posta a nu com a remoção dos ossos,

percebemos um recesso ainda mais profundo, com quatro pés de profundidade, três de 
largura e seis ou sete de altura. Parecia ter sido construído sem fim definido, um mero
intervalo entre dois dos suportes colossais do teto das catacumbas, e era fechado por uma
das paredes exteriores de granito maciço.
                Foi em vão que Fortunato, levantando a tocha baça, tentou divisar as profundezas
do recesso. A luz débil não permitia que víssemos o seu fim.
                – Vá em frente – eu disse –, o Amontillado está aí dentro. Quanto a Luchesi...
                – É um ignorantão – interrompeu meu amigo, dando um passo incerto adiante,
enquanto eu seguia nos seus calcanhares. Num instante, chegou à extremidade do nicho e,
sentindo a própria marcha detida pela rocha, ficou ali, estupidamente atordoado. Um
momento mais, e eu o agrilhoara ao granito. Na superfície deste havia dois grampos de
ferro, a cerca de dois pés um do outro, na horizontal. De um deles, pendia uma corrente;
do outro, um cadeado. Passando os elos em volta da cintura, prendê-lo foi coisa de
poucos segundos. Estava atônito demais para resistir. Retirando a chave, recuei para fora
do recesso.
                – Passe a mão pela parede – eu disse –, não há como não sentir o salitre. Na
verdade, tudo é muito úmido. Permita-me implorar de novo, vamos voltar. Não? Então
serei obrigado a deixá-lo aqui. Mas antes devo-lhe todas as pequenas atenções a meu
alcance.
                – O Amontillado! – exclamou meu amigo, ainda não recobrado do espanto.
                – É verdade – respondi –, o Amontillado.
                Enquanto dizia essas palavras, eu me ocupava da pilha de ossos que mencionei há
pouco. Atirando-os para o lado, logo pus a descoberto alguma argamassa e pedra de
cantaria. Com esses materiais e com ajuda da colher, comecei vigorosamente a tapar a
entrada do nicho.
                Mal assentara a primeira fileira de pedras quando percebi que a ebriedade de
Fortunato dissipara-se bastante. O primeiro indício foi um grito baixo, lamentoso, do
fundo do recesso. Aquele não era o grito de um bêbado. Seguiu-se um silêncio longo e
obstinado. Assentei a segunda fileira, e a terceira, e a quarta; e então ouvi a vibração
furiosa da corrente. O barulho durou vários minutos, durante os quais, para que pudesse
escutar com mais satisfação, interrompi o trabalho e me sentei sobre os ossos. Quando
finalmente o clangor cedeu, retomei a colher e terminei sem mais interrupção a quinta, a
sexta, a sétima fileiras. Agora a parede chegava quase a meu peito. Fiz nova pausa e,
erguendo as tochas acima da minha obra, lancei uns raios débeis sobre a figura ali dentro.
                Uma sucessão de gritos altos e estridentes, explodindo subitamente da garganta
daquela figura encadeada, pareceu me empurrar com violência para trás. Por um breve
momento, hesitei – estremeci. Puxando o punhal da bainha, comecei a explorar o recesso;
mas bastou um instante de reflexão para me tranqüilizar. Passei a mão pela alvenaria
sólida das catacumbas e me dei por satisfeito. Cheguei mais perto da parede. Respondi
aos berros daquele que clamava. Fiz eco, fiz coro, ultrapassei-os em volume e força. Fiz
isso, e o suplicante fez silêncio.
                Era já meia-noite, e minha tarefa chegava ao fim. Completara a oitava, a nona, a
décima fileira. Terminara parte da última, a décima primeira; faltava uma única pedra por
assentar e rebocar. Forcejei com seu peso; encaixei-a parcialmente na posição final. Mas
então veio do nicho um riso baixo que me eriçou os cabelos. Ouviu-se em seguida uma

voz triste, que tive dificuldade de reconhecer como a do nobre Fortunato. A voz dizia: 
               – Ha, ha, ha! He, he! Que bela piada, verdade – uma peça excelente. Vamos
morrer de rir no palazzo, he, he, he! Com um bom vinho, he, he, he!
               – O Amontillado! – eu disse.
               – He, he, he! He, he, he! Sim, claro, o Amontillado. Mas não está ficando tarde?
Será que não estão nos esperando no palazzo, a minha senhora e os outros?
               – Sim – respondi –, vamos embora.
               – Pelo amor de Deus, Montresor!
               – Isso mesmo, pelo amor de Deus!
               Mas espreitei em vão por uma resposta a essas palavras. Fiquei impaciente.
Chamei alto:
               – Fortunato!
               Nenhuma resposta. Chamei de novo:
               – Fortunato!
               Nenhuma resposta ainda. Joguei uma tocha pelo vão restante e deixei que caísse
para dentro. Não se ouviu mais que um tilintar dos guizos. Senti náuseas – por conta da
umidade das catacumbas. Apressei-me a pôr fim à minha obra. Assentei a última pedra e
a reboquei. Contra a nova alvenaria, reergui o velho baluarte de ossos. Por meio século,
nenhum mortal veio perturbá-los. In pace requiescat!


Tradução de Samuel Titan Jr. 

Krampus - O Demônio do Natal


Krampus, 1901
 Há um elemento pouco conhecido da tradição de São Nicolau que foi estranhamente apagado. Segundo a lenda, em grande parte da sua existência, São Nicolau (Sinter Klaas) foi acompanhado por um esquisito ajudante. Este misterioso companheiro teve muitos nomes: era conhecido como Knecht Rupprecht, Pelznickle, Ru-Klas, Obscuro, Tenebroso, Obscuro Ajudante, Ajudante Negro, Black Peter, Hans Trapp, Krampus, Grampus, Zwarte Piets, Furry Nicholas, Ruvid Nicholas, Julebuk. Embora o nome variasse de acordo com o contexto cultural, a personagem era sempre o mesmo. Algumas outras definições, bem conhecidas, eram atribuídas ao ajudante de São Nicolau: demónio, maligno, diabo e Satanás. Uma das suas tarefas era punir as crianças e "alegremente arrastá-las para o inferno".
O “demônio” que acompanhava Papai Noel é um fato bem documentado: Em cada viagem de Papai Noel aparece esse personagem obscuro como seu precursor.

G. e P. Del Re em The Christmas Almanack  ("O Almanaque de Natal"): É Christkind [Menino Jesus em português, ndt] quem traz os presentes, acompanhados por um dos seus companheiros do mal, Knecht Rupprecht, Pelznickle, Ru-Klas. 

Em muitas regiões da Alemanha, Hans Trapp é o demônio que acompanha Christkind durante a troca de presentes. 

Na tradição da baixa Áustria, um demônio chamado Krampus ou Grampus acompanha são Nicolau no dia 6 de dezembro na entrega de presentes.

Krampus, primeiros anos 900
 T. Van Renterghem em When Santa Was a Shaman ("Quando pai Natal era um Shaman"):
 Como Pai Natal, Sinterklaas e o seu escuro ajudante entram pela chaminé. 

P. Siefker em Santa Claus, Last of the Wild Men: The Origins and Evolution of Saint Nicholas 
("Santa Claus, o Último dos Homens Selvagens: as Origens e a Evolução de São Nicolau"):


Ruprecht desempenha o papel de bicho-papão, um escuro, peludo, canibal pesadelo com chifres, armado com uma vara. Interpreta o mal supremo, o horror final que poderia voltar-se contra as crianças negligentes.

Krampus - O Demônio do Natal


Krampus é um ser mitológico popular no folclore Alpino (Países que ficam perto dos Alpes; Suíça, França, Alemanha, Itália, Áustria, Eslovênia e Liechtenstein). Ele acompanha São Nicolau em suas visitas às casas das pessoas, e, enquanto Nicolau dá presentes às boas crianças, Krampus pune as más. O nome Krampus vem de 'krampen', 'garra' em alemão antigo. Mas ele também possui outros nomes, dependendo da região, como Klaubauf, em algumas partes da Áustria, Pelzebock ou Pelznickel na Alemanha entre outros.
Sua aparência mais comum é quase a mesma que se dá aos demônios: Metade homem, metade bode, com chifres, cauda longa e uma língua enorme e comprida. Mas também ele pode ser caracterizado como um cavalheiro vestido de preto ou uma criatura muito cabeluda, dependendo da região em que se ouve sua história.


Sua aparência mais comum é quase a mesma que se dá aos demônios: Metade homem, metade bode, com chifres, cauda longa e uma língua enorme e comprida. Mas também ele pode ser caracterizado como um cavalheiro vestido de preto ou uma criatura muito cabeluda, dependendo da região em que se ouve sua história.


Acredita-se que o Krampus exista desde antes dos países germânicos tornarem-se cristãos, mas aparecendo sozinho nas histórias. Ele é uma figura tão forte do folclore europeu que conseguiu sobreviver à Inquisição da Igreja Católica, quando esta acusava e bania qualquer celebração que não fosse da religião. No século XVII, o Krampus entrou nas festividades do Natal católico e começou a fazer companhia a São Nicolau em suas viagens. 

Krampus entra nas casas procurando crianças más, que mentem, que se comportaram mal durante o ano; assim que encontra uma, ele a pune com correntes enferrujadas e depois as leva embora, colocando-as dentro de uma cesta para jogá-las em uma fogueira.





A Ghost's Lullaby - English


Sinopse
Sean tem uma queda em uma menina de sua sala de aula. Ela é tão tímida que não fala com ninguém a não ser ele.
Amanhã será o Dia dos Namorados, a previsão do tempo diz que não irá chover, que o sol irá brilhar e é também um domingo. Um dia perfeito.
... Se Sean não tivesse esquecido o seu presente na escola... Desesperado para salvar o próximo dia, ele se esgueirou para dentro do prédio para pegá-lo, mas logo quando chega ele sente uma presença estranha e se lembra dos mistérios da escola ter fantasmas que estão presos dentro da construção.




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Yume Nikki - PT BR


    O título pode ser traduzido literalmente como “Diário dos Sonhos” e é exatamente isso. O jogador controla a garota Madotsuki, uma hikkokumori por motivos desconhecidos, e explora seu mundo dos sonhos atrás de efeitos que modificam a aparência da personagem.


    Neste jogo você controla uma garotinha chamada Madotsuki. Uma hikikomori, uma pessoa que é extremamente anti-social por alguma razão e resume seu mundo ao seu quarto ou casa raramente saindo dele. O jogo começa com a personagem localizada em seu quarto. Há uma porta, um vídeo-game (onde você joga um minijogo com uma música prá lá de depressiva), uma porta que leva Madotsuki para a varanda do prédio onde vive, uma mesa onde está depositado o famigerado Diário dos Sonhos (e é o único lugar onde você pode salvar seu jogo), e por fim a cama. E é na cama onde você passará a maior parte do tempo, vivendo os sonhos de Madotsuki.



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Menina das Memórias - Kioku Shoujo

Menina das Memórias ou Kioku Shoujo é um jogo de terror,puzzles e aventuras feito por Higashi Dora no RPG Maker 2000.Foi traduzido pelo Zero Corpse.

       ''Nozomi Sora é uma menina de 9 anos que estava tirando uma foto com família quando algo acontece...mas, ela não se lembra...ela acorda em uma casa um pouco familiar e percebe que não está sozinha.''


 Visual dentro do jogo.

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Hop-Frog - Edgar Allan Poe


    Nunca conheci ninguém que, como o rei, tanto se divertisse com uma boa piada. O seu único objectivo na vida parecia ser brincar. Contar uma boa história cómica e contá-la bem era o melhor caminho para a sua benevolência. Por isso os seus sete ministros eram conhecidos pelos seus talentos de contadores de anedotas. Fisicamente também saíam ao rei, porque eram grandes, gordos e com uma predisposição inegável para a pândega. Se a farsa faz engordar as pessoas ou se há qualquer coisa na gordura que lhes dá tal disposição foi coisa que nunca consegui perceber; mas o certo é que um farsante magro é rara avis in terris.

    Quanto aos refinamentos ou sombras do espírito, como ele lhes chamava, o rei pouco se importava. Tinha uma admiração especial por uma piada em largura, mas não se importava de aturar uma comprida, desde que fosse boa. As delicadezas aborreciam-no. Teria preferido o Gargântua de Rabelais ao Zadig de Voltaire; e acima de tudo as partidas divertiam-no muito mais ainda que as anedotas contadas.

    Na época em que se passa esta história os bobos profissionais ainda não haviam passado totalmente de moda na corte. Algumas das grandes potências ocidentais ainda mantinham os seus «tolos», pobres desgraçados vestidos de roupagens multicores e chapéus com campainhas, de quem se esperava que tivessem sempre uma graça na boca em paga das migalhas que caíam da mesa real.

    O nosso bom rei, como era de prever, lá tinha o seu bobo. O facto é que ele sentia necessidade de qualquer coisa do género louco - quanto mais não fosse para contrabalançar a pesada sabedoria dos sete homens sábios que eram seus ministros, já para não falar dele mesmo.

    O seu «tolo» ou bobo de profissão era, porém, mais que um simples bobo.

    O seu valor era triplo aos olhos do rei, porque era também anão e aleijado. Os anões eram tão vulgares na corte como os bobos nessa época; e vários monarcas achariam os dias bem longos (OS dias são mais longos nas cortes que nos outros sítios) se não tivessem um bobo que os fizesse rir ou um anão de quem se pudessem rir. Mas, como já fiz notar, em noventa e nove por cento dos casos, estes bobos são gordos, rotundos e maciços - de modo que era para o nosso rei uma vasta fonte de orgulho o facto de possuir em Hop-Frog (Hop=saltitar; Frog=rã)- tal era o nome do bobo - um triplo tesouro numa só pessoa.

    Julgo que o nome Hop-Frog não lhe fora dado pelos padrinhos de baptismo, mas sim por acordo unânime dos sete ministros devido ao facto de ele não andar como os outros homens'. A verdade é que Hop- Frog se deslocava de uma forma interjeccional- um jeito entre um saltinho e uma torsão -, um movimento que era para o rei uma diversão constante e naturalmente uma consolação; porque, apesar da protuberância do estômago e de um inchaço constitucional da cabeça, o rei era considerado por toda a corte como sendo um belo homem.

    Mas embora Hop-Frog, devido à distorção da suas pernas, tivesse grandes dificuldades a deslocar-se num caminho ou num soalho, a prodigiosa força muscular com que a natureza dotara os seus braços, como para compensar a imperfeição dos membros inferiores, permitia-lhe demonstrar uma habilidade espantosa quando se tratava de árvores ou cordas ou qualquer outro aparelho onde se pudesse trepar. E nesses exercícios parecia-se mais com um esquilo ou um macaco que com uma rã.


    Não posso dizer com precisão qual o país de origem de Hop-Frog, Vinha sem dúvida de qualquer região bárbara de que ninguém nunca ouvira falar - muito distante da corte do nosso rei.

    Hop-Frog e uma rapariga pouco menos anã que ele (embora de proporções admiráveis e dançarina excelente) tinham sido raptados aos seus respectivos lares nas províncias limítrofes e enviados como presente ao rei por um dos seus sempre vitoriosos generais.
Nestas circunstâncias, não é de admirar que uma grande intimidade se tivesse estabelecido entre os dois pequenos cativos. De facto, em breve se transformaram em amigos inseparáveis. Hop- Frog, que apesar de todas as suas palhaçadas não era nada popular, pouco podia fazer para ajudar Tripetta; mas ela, por causa da sua delicadeza e da sua beleza radiosa - de anã -, era acarinhada e admirada por todos; possuía, pois, uma grande influência e nunca deixava de a utilizar sempre que se lhe apresentava a ocasião em benefício de seu querido Hop- Frog.

    Num dia de grande solenidade - já não me lembro qual-, o rei decidiu dar um baile de máscaras; e sempre que havia na corte um desses bailes ou qualquer outra festividade eram sempre requeridos os talentos de Hop- Frog e Tripetta. Hop- Frog, então, tinha tanta imaginação em matéria de decorações, personagens e fatos de fantasia para bailes de máscaras, que parecia que nada se podia fazer sem o seu contributo.

    A noite marcada para a festa chegara. Sob a supervisão de Tripetta fora preparada uma sala esplêndida para dar todo o brilho a um baile de máscaras. A corte toda esperava impacientemente. Quanto às personagens e fatos, é claro que, nessa matéria, já todos tinham feito as suas escolhas. Muitos já haviam tomado as suas decisões (sobre os papéis a desempenhar) com uma semana ou mesmo um mês de antecedência; e de facto ninguém tinha qualquer dúvida - excepto o rei e os seus sete ministros. Não faço ideia das razões por que hesitavam, a não ser que o fizessem por piada.

    O mais certo é que tivessem dificuldades em decidirem por serem tão gordos. De qualquer modo o tempo escasseava; e como último recurso mandaram chamar Tripetta e Hop-Frog.
Quando os dois amiguinhos obedeceram às ordens do rei, encontraram-no sentado a beber vinho com os sete membros do seu conselho de ministros; mas o monarca parecia estar muito mal-disposto. Sabia que Hop-Frog não gostava de vinho, pois esta bebida excitava o pobre aleijado, pondo-o quase louco; e a loucura não é uma sensação confortável. Mas o rei adorava pregar partidas e divertia-se a obrigar Hop-Frog a beber e (como o rei dizia) «a ficar alegre».

    - Anda cá, Hop-Frog- disse quando o bobo e a amiga entraram na sala. - Engole-me este copo à saúde dos teus amigos ausentes [aqui Hop-Frog suspirou] e a seguir ajuda-nos com a tua imaginação. Queremos personagens - tipos, homem! -, qualquer coisa de novo, de original.

    Estamos fartos desta eterna monotonia. Anda, bebe! O vinho iluminará o teu espírito.

    Hop-Frog tentou, como de costume, responder com uma piada às exclamações do rei; mas o esforço era demasiado. Acontecia que era o aniversário do pobre anão e a ordem de beber aos «amigos ausentes» enchera-lhe os olhos de lágrimas. Grandes gotas amargas caíram na taça que humildemente recebera das mãos do tirano.

    -Ah! ah! ah! ah! - rugia este enquanto o anão esvaziava relutantemente o copo. - Vejam só o que pode um copo de bom vinho! Até já tens os olhos a brilhar!


    Pobre anão! Mais que brilho era cintilação que se via nos seus olhos; porque o efeito do vinho no seu cérebro excitável não era só fortíssimo como imediato. Pousou nervosamente a taça sobre a mesa e um a um fitou os membros da companhia num olhar semilouco. Todos pareciam estar sumamente divertidos com a partidinha do rei.

    - Vamos então aos negócios - disse o primeiro-ministro, um homem muito gordo.

    - É isso - disse o rei. - Anda lá, Hop-Frog, dá-nos uma ideia. Personagens, meu caro, é de personagens que precisamos, todos nós. Ah! ah! ah! - e como isto era suposto ser uma boa piada, o riso do rei foi acompanhado em coro por todos os sete ministros.

    Hop-Frog riu também, embora o seu riso fosse fraco e de certo modo distraído.

    - Então, então - disse o rei impacientemente -, não tens nada a sugerir?

    - Estou a tentar pensar em algo de original- respondeu o anão com ar perdido; porque o vinho deixara-o realmente tonto.

    - A tentar! - gritou o rei ferozmente. - Que queres dizer com isso? Ah, já percebo! Estás amuado e queres mais vinho. Toma, bebe isto. E enchendo outra taça até à borda, ofereceu-a ao aleijado, que se limitou a olhar para ela, respirando com dificuldade.

    - Bebe, ouviste!? - berrou o monstro. - Senão, com os demónios...

    O anão hesitou. O rei ficou vermelho de raiva. Os cortesãos sorriam cruelmente. Tripetta, pálida como uma morta, aproximou-se da cadeira do monarca e, caindo de joelhos perante ele, implorou-lhe que poupasse o seu amigo.

    Durante alguns instantes o tirano ficou a olhar para ela, num espanto evidente pela sua audácia. Parecia não saber muito bem o que dizer ou fazer - como exprimir convenientemente a sua indignação. Finalmente, sem dizer palavra, afastou-a violentamente e atirou-lhe à cara o conteúdo da taça de ouro.

    A pobre rapariga levantou-se como pôde e sem se atrever sequer a suspirar regressou ao seu lugar no fundo da mesa.


    Houve um silêncio de morte que durou cerca de meio minuto e durante o qual se teria ouvido o ruído que uma pena ou uma folha fariam ao cair. Foi interrompido por uma espécie de raspar abafado mas rouco e prolongado que parecia vir ao mesmo tempo de todos os cantos da sala.

    - Porquê... porquê... porquê... Porque é que estás a fazer esse barulho? - perguntou o rei voltando-se furioso para o anão.

    Este parecia ter em certa medida melhorado da sua embriaguez e olhou fixa e tranquilamente para o tirano, dizendo apenas:

    - E... eu? Como podia ter sido eu?

    - Pareceu-me que o som vinha lá de fora - disse um dos cortesãos. - Talvez seja o papagaio na janela a aguçar o bico nas grades da gaiola.

    - É verdade - disse o rei como se a sugestão o aliviasse muitíssimo -, mas, palavra de cavaleiro, podia jurar que era o ranger dos dentes deste vagabundo.

    Ao ouvir isto o anão riu-se (o rei era um tão obstinado apreciador de piadas que não podia opor-se ao riso de quem quer que fosse) e mostrou uns dentes grandes, fortes e muito repelentes. Além disso, confessou-se perfeitamente disposto a engolir todo o vinho que lhe quisessem dar. O monarca acalmou; e Hop-Frog, bebendo outro copo sem que aparentemente o vinho lhe fizesse mal, entrou imediata e espirituosamente na preparação dos planos para o baile de máscaras.

    - Não sei dizer qual foi a associação de ideias - observou muito tranquilamente como se nunca na vida tivesse provado vinho -, mas mal Vossa Majestade empurrou a rapariga e lhe atirou o vinho à cara, mal Vossa Majestade acabou de fazer isso e enquanto lá fora o papagaio fazia aquele barulho esquisito, veio-me à ideia um divertimento maravilhoso, um jogo do meu país que usamos muitas vezes nos nossos bailes de máscaras, mas aqui será completamente original. Infelizmente necessita de oito pessoas e...

    - Eh, oito somos nós! - exclamou o rei rindo-se da sua inteligente descoberta da coincidência. - Oito sem tirar nem pôr, eu e os meus sete ministros. Então, diz lá como é o jogo?


    - Chamamos-lhe - respondeu o aleijado - «os oito orangotangos presos», e se for bem feito é extraordinariamente divertido.

    - Há-de ser bem feito! - disse o rei endireitando-se e baixando as pálpebras.

    - A beleza do jogo - continuou Hop-Frog - reside no pânico que causa entre as mulheres.

    - Óptimo! - rugiram em coro o monarca e os ministros.

    - Vou vesti-los de orangotangos - prosseguiu o anão. - Deixem isso comigo. Têm de ficar tão parecidos que todos os convivas os tomem por verdadeiros animais, e, claro, vão ficar tão admirados como assustados.

    - Oh!, que maravilha! - exclamou o rei. - Hop-Frog, ainda hei-de fazer de ti um homem.

    - As correntes destinam-se a aumentar mais ainda a confusão com o tilintar que fazem. Faz-se de conta que fugiram em massa aos vossos guardas. Vossa Majestade nem imagina o efeito causado num baile de máscaras por oito orangotangos cobertos de cadeias que a maior parte das pessoas imagina serem verdadeiros; e que se precipitam com gritos selvagens sobre as mulheres e os homens delicada e elegantemente vestidos. O contraste é inimitável.

    - Pois tem de ser! - disse o rei, e todos se levantaram apressadamente (estava a fazer-se tarde) para pôr em execução o esquema de Hop-Frog.


    A sua ideia de vestir toda a gente de orangotango era muito simples, mas servia eficazmente os seus objectivos. Os animais em questão eram, na época em que se passa a minha história, pouco conhecidos no mundo civilizado, e como as imitações feitas pelo anão eram suficientemente animalescas e mais que suficientemente horrendas, achou-se que correspondiam bem à verdade da natureza. O rei e os ministros foram primeiro enfiados em calções e camisas de malha muito justas. Em seguida pintaram-nos de alcatrão. Nesta fase do processo alguém sugeriu que se usassem penas; mas a sugestão foi rapidamente afastada pelo anão, que convenceu os oito, com provas oculares, que o pêlo do orangotango era mais fielmente representado por estrigas de linho.

    E assim se colou uma espessa camada de estrigas sobre a espessa camada de alcatrão. Arranjou-se depois uma longa corrente, que foi primeiro passada pela cinta do rei e amarrada; depois pela cinta de outro membro do grupo e também firmemente amarrada e assim sucessivamente e sempre da mesma maneira. Quando todos ficaram amarrados afastaram-se uns dos outros tanto quanto possível e formaram um círculo; e para que tudo parecesse natural Hop-Frog passou o resto da corrente em dois diâmetros e em ângulo recto pelo centro do círculo, segundo o método adoptado pelos caçadores de chimpanzés ou de outros macacos grandes em Bornéu.

    A grande sala em que se desenrolaria o baile era um salão circular, muito alto, que recebia a luz do Sol por uma única janela no tecto. De noite (era o momento a que esta sala se destinava especialmente) era iluminada por um enorme lustre que pendia de uma corrente no centro da clarabóia e que podia ser içado ou descido, como vulgarmente, por meio de um contrapeso; mas para não estragar a elegância do conjunto, o contrapeso passava por fora da cúpula e por cima do telhado.


    Fora Tripetta quem superintendera à decoração da sala; mas ao que parecia em certos pormenores fora guiada pelo juízo calmo do seu amigo anão. Por sugestão deste, o lustre fora desta vez removido. Os pingos da cera (que num tempo tão quente eram quase impossíveis de evitar) causariam danos irreparáveis às ricas vestes dos convidados, que, estando o salão tão cheio, nem todos poderiam ficar longe do centro, ou seja a zona por baixo do lustre. Foram, pois, colocados candelabros por toda a sala fora do espaço que a multidão ocuparia; e uma torcha de que emanava um perfume agradável foi colocada na mão direita de cada uma das cariátides que ladeavam as paredes - ao todo umas cinquenta ou sessenta.

    Os oito orangotangos, a conselho de Hop-Frog, esperaram pacientemente até à meia-noite (hora a que já a sala estava cheia de mascarados) antes de aparecerem. Mas ainda o relógio não acabara de bater as doze badaladas e já eles se precipitavam ou, melhor dizendo, rebolavam para o salão - porque as correntes fizeram tropeçar e cair a maior parte dos membros do grupo.

    A excitação dos mascarados foi prodigiosa e encheu de gozo o coração do rei. Como previsto, foi grande o número de convidados que acreditaram que estas bestas de ares ferozes eram verdadeiros animais, mesmo desconhecendo os orangotangos. Muitas mulheres desmaiaram de pavor; e se o rei não tivesse tido o cuidado de proibir o porte de armas dentro do salão, tanto ele como os seus ministros em breve teriam pago com sangue as suas brincadeiras. Assim toda a gente correu para as portas; mas o rei ordenara que estas fossem fechadas logo após a sua entrada; e por sugestão do anão era este quem guardava as chaves.

    No auge do tumulto, enquanto cada um dos mascarados só pensava na sua própria salvação (porque havia de facto perigo devido aos empurrões da multidão excitada), a corrente de onde normalmente pendia o lustre, e que fora içada após a remoção deste, começou a baixar gradualmente, até que o gancho da sua extremidade parou a uns três pés do chão.


    Pouco depois o rei e os seus sete amigos, tendo vagueado pela sala em todas as direcções, acabaram por se encontrar no centro da sala e, logicamente, em contacto directo com a corrente. Enquanto ali estavam, o anão que os seguira sempre de perto, incitando-os a acautelarem-se com o burburinho, agarrou a cadeia que os mantinha na intersecção das duas partes que cruzavam diametralmente e em ângulo recto o círculo.

    Então, com a rapidez do pensamento, inseriu aí o gancho em que estivera pendurado o candeeiro; e num instante, como movida por um agente invisível, a corrente foi içada de forma que o gancho ficou fora do alcance e inevitavelmente arrastou consigo os orangotangos todos juntos e voltados uns para os outros.
Nesta altura os mascarados já haviam recuperado, em certa medida, do susto apanhado; e, começando a considerar toda a história como uma brincadeira bem pensada, deram uma grande gargalhada ao verem a situação dos macacos.

    - Deixem-nos comigo! - gritava agora Hop-Frog numa vozinha aguda que dominava o tumulto circundante. - Deixem-nos comigo. Acho que os conheço. Se puder dar-lhes uma olhadela, posso dizer logo quem são.

    Gatinhando por cima das cabeças da multidão, o anão conseguiu chegar à parede; depois, arrancando uma torcha a uma das cariátides, regressou pelo mesmo caminho ao centro da sala, saltou com a agilidade de um macaco para a cabeça do rei e daí empoleirou-se na corrente, examinando à luz do archote o grupo de orangotangos e continuando a gritar:

    - Daqui a nada hei-de descobrir quem são.

    E então, enquanto toda a assembleia (incluindo os macacos) se torcia de riso, o bobo deu de repente um assobio agudo; em resposta, a corrente foi violentamente puxada para cima a uma altura de trinta pés - arrastando consigo os atónitos e estrebuchantes orangotangos e deixando-os suspensos no ar a meio caminho entre a clarabóia e o chão. Hop-Frog, que se agarrara à corrente enquanto esta subia, mantinha a sua posição relativamente aos oito mascarados e continuava (como se nada fosse) a iluminá-los com o archote como para tentar descobrir as suas identidades.


    Tão espantada ficou toda a assistência com esta ascensão que se instalou na sala um silêncio mortal que durou cerca de um minuto.

    Foi quebrado por um raspar abafado e rouco semelhante ao som que já anteriormente chamara a atenção do rei e dos seus conselheiros quando o primeiro atirara o vinho à cara de Tripetta. Mas desta vez não podia haver dúvidas sobre o ponto de onde vinha o som. Brotava dos dentes, semelhantes a presas, do anão que os rangia e trincava enquanto a sua boca espumava e os seus olhos fitavam cintilantes de uma raiva terrível o rei e os seus sete companheiros.

    - Ah, ah! - disse finalmente o bobo furioso. - Ah, ah! Começo a ver quem é esta gente! - E então, a pretexto de examinar melhor o rei, chegou o archote à camada de linho que envolvia o monarca, a qual instantaneamente se transformou num manto de chama viva. Em menos de meio minuto os oito orangotangos ardiam violentamente entre os gritos da multidão, que lá em baixo assistia horrorizada sem poder prestar-lhes o menor auxílio. Finalmente a violência cada vez maior das chamas obrigou o bobo a subir mais alto na corrente para se colocar ao abrigo delas; e enquanto durou esse movimento a multidão voltou a cair em silêncio. O anão aproveitou a ocasião e voltou a falar.

    - Vejo agora nitidamente - disse - que espécie de gente são estes mascarados. São um grande rei e os seus sete conselheiros particulares; um rei que não sente escrúpulos em atacar uma rapariga indefesa e os seus sete conselheiros que o apoiam nas suas atrocidades. Quanto a mim, sou simplesmente Hop-Frog, o bobo, e esta é a minha última pantomima.


    Graças à extrema combustibilidade do linho e do alcatrão, ainda o anão não acabara o seu breve discurso e já a vingança estava consumada. Os oito cadáveres balançavam-se nos ares, numa massa fétida, negra, horrenda e indistinta. O aleijado atirou-lhes o archote, trepou agilmente até ao tecto e desapareceu pela clarabóia.

    Supõe-se que Tripetta, de sentinela no telhado do salão, serviu de cúmplice ao amigo nesta vingança incendiária e que, juntos, conseguiram regressar ao seu país, pois nunca mais ninguém os viu.

A maldição do livro velho

Um senhora queria lhe entregar um velho livro, mas ela recusou. De nada adiantou, pois o livro foi até ela e mudou sua vida para sempre...

Dizem que os mortos nunca voltam. Por mais que acreditemos, tudo isso não passa de um íntimo desejo de continuar a viver mesmo depois de morto, pois não nos conformamos com a morte.

Não era nisso que Helena acreditava. Gostava muito de assuntos relacionados ao sobrenatural e sempre buscava meios de entender o que acontece quando morremos.

Um dia quando estava saindo do colégio, fazia muito frio e uma intensa neblina cobria as ruas. Helena caminhava num ritmo devagar, para aproveitar o tempo, pois adorava o frio.

O silêncio tomava conta da rua quando foi interrompido por passos. Era uma senhora muito enrugada e com uma aparência nada saudável. Tinha um livro grosso e velho nas mãos e de repente chamou-a pelo nome. Helena mesmo assustada com essa situação sobre o fato da velhinha saber o seu nome, resolve parar e ver o que a senhora quer, pois pensou “o que uma velhinha poderia fazer de mal?”

A velhinha se aproximou e lhe ofereceu o livro grosso e velho a moça, afirmando que o tal livro deveria ser oferecido a ela mas não poderia ser rejeitado, pois, a pessoa destinada ao livro sofreria sérias consequências. Helena debochou da senhora enrugada, dizendo que estava caduca. E mesmo com muita insistência da velhinha, Helena não aceitou, virou-se e foi embora carregando as últimas palavras ditas pela senhora “seu último desejo será seu martírio por toda a eternidade”.

Helena chega em casa agindo normalmente, nem se importou com abordagem recebida a pouco. Almoça e vai dormir em seu quarto. Quando acorda olha no relógio, são três da tarde.

Repentinamente toma um susto! O livro qual a velhinha oferecera estava na cabeceira de sua cama!
Apesar da indignação, Helena pega os livros nas mãos, era um livro marrom, sem nome. Então resolve abrir.

Logo na primeira página havia algo escrito a mão em uma língua que Helena não conseguiu identificar “ez a könyv az esélye, ha a tulajdonos a könyv tagadja meg az utolsó kívánsága az lesz a legnagyobb rémálom.” Folheou o livro tentando obter alguma informação sobre o livro mas também estava escrito nessa língua estranha.

No dia seguinte, Helena se vestiu para ir à escola, pegou sua mochila mas tomou outro rumo, queria tirar essa história a limpo e foi até a casa de uma mulher que morava no bairro ao lado que era conhecida por mexer com ocultismo.

Chegando lá, bateu palmas algumas vezes. Era uma casa mal cuidada, cheia de gatos, a mulher tinha unhas muito compridas, cabelos oleosos, cega de um olho e usava roupas medonhas, e tinha um cheiro forte de cigarro. Se não fosse pela curiosidade, Helena jamais pisaria naquele lugar.

Convidou-a para sentar e Helena logo lhe contou sobre o livro e sobre a velha senhora. A mulher quis ver o livro e Helena o mostrou. A mulher ficou pasma, logo reconheceu do que se tratava. Era magia negra da pesada!

Helena quis saber exatamente do que se tratava e que língua estava escrito. E a mulher lhe contou tudo.

No século VX na Hungria, havia uma condessa chamada Elizabeth Bathory, uma mulher de pura maldade que torturava suas escravas e banhava-se com o sangue delas a fim de manter-se jovem. Reza a lenda que este livro foi um presente de sua tia lésbica que praticava as artes da magia negra. “ez a könyv az esélye, ha a tulajdonos a könyv tagadja meg az utolsó kívánsága az lesz a legnagyobb rémálom” quer dizer que este livro deve ser recebido de bom grado, caso negado, o último desejo que a pessoa fez, será seu martírio por toda a eternidade. Este livro é cheio de maldições, as pessoas que utilizaram este livro fizeram coisas terríveis, só tocar ou possuir pode trazer alguma consequência.

O motivo pelo qual ele foi parar em suas mãos pode estar relacionado com algum caso de maldição que caiu sobre sua família.

Helena voltou para casa inconformada, pois conseguiu as informações mas a mulher nada podia fazer para ajuda-la. Era um tipo de magia desconhecida, muito antiga, não havia como desfazer. Lembrou-se do passado da rivalidade sobre o lado religioso e o lado obscuro de sua família. Teve uma tia que participava de missas negras, que morreu em um incêndio. O que deixou Helena um tanto aflita foi o fato de ter sofrido muito com a morte da tia, que mesmo Helena sabendo o quão grotesco era o seu comportamento aos olhos da sociedade, gostava muito de sua tia, e dois dias de sua tia morrer, Helena e Márcia haviam combinado que quem morresse primeiro, voltaria para contar como é o mundo dos mortos.

Naquela noite, Helena não pregava os olhos, parecia que todas as posições em que se deitava não eram confortáveis.

Eram três da madrugada, um cheiro de perfume infestou seu quarto. Era o perfume de sua tia Márcia, impossível não reconhecer, muito cheiroso.

Helena resolve sentar na cama, e de repente vê sua tia Márcia ao pé da cama, com uma roupa branquíssima, transmitia muita paz. “venha minha querida, vou lhe mostrar o mundo dos mortos.”

Helena sentiu um pouco amedrontada, mas feliz de poder ver sua tia outra vez, e ver que estava bem, mas estranhou sua serenidade “me dê a mão minha querida.”

Tomada pela euforia de poder saber o que há quando morremos, Helena deu as mãos a sua querida tia, quando de repente tudo mudou...

Tia Márcia apertava forte a mão da sobrinha, que a deixou incomodada, e a olhou nos olhos com um olhar perturbador e foi mudando sua fisionomia e revelando uma aparência horrenda de um demônio. O cheiro de perfume foi substituído pelo cheiro de putrefação.

Helena tentava soltar a mão, mas o demônio era muito forte, queria leva-la de qualquer maneira, falava com uma voz assustadora e com um sorriso cínico, “vamos querida, vou mostrar-lhe sua morada.”

De repente Helena estava em uma espécie de vórtice, movia-se muito rápido, queria vomitar...

Acorda em sua cama, tudo está normal, será que Helena estava apenas sonhando? Ficou um tempo na cama, pensando nos acontecimentos. Se sentia aliviada por ser apenas um sonho. Resolve levantar-se para tomar um copo d’água, quando abre a porta uma surpresa a espera...

Era um labirinto, o lugar era bonito, mas lhe causava medo e angústia. Parecia que seu pesadelo ou encontro com o demônio havia sido a um ano atrás... Não tinha mais noção de tempo, noção de nada. Não sentia fome, não sentia sede, a única coisa que sentia era pavor.

Andou por um tempo pelo labirinto, estava confusa, quase perdendo sua sanidade.

Percebeu que estava sendo acompanhada, quando se vira, era a velhinha.

Helena sentia tonta, como se estivesse dopada, como se estivesse enlouquecendo pouco a pouco, sentia-se atormentada, uma sensação terrível, de repente, quase sem forças, cai ao chão e lá permanece, olhando para o nada.

A velha senhora friamente lhe disse “esse é o seu destino por toda a eternidade, os mortos não retornam jamais.

Durante toda a sua vida inútil, você buscou algo além do seu alcance. Nunca fez algo de bom, nada que merecesse algum mérito, passava a maior parte do tempo atrás de uma vadia estúpida que teve uma morte merecida, e você lamentou como se ela fosse um anjo. Se tivesse sido mais esperta não estaria aqui, se não tivesse rejeitado o meu livro não estaria  nesse lugar onde só os imundos permanecem. Seu destino será esse, passará o resto da eternidade vagando por este labirinto, tentando buscar algum sentido a sua alma oca.”